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Opinião
Domingo - 22 de Outubro de 2023 às 06:38
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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A frase "os fins justificam os meios" é uma expressão que há muito tempo tem sido objeto de debates, discussões e análises em filosofia, ética e política. Essa máxima implica que, em determinadas situações, alcançar um resultado desejado pode justificar qualquer meio ou método empregado, independentemente de quão questionável ou moralmente problemático possa ser.

Esse conceito intriga e divide pensadores, pois questiona os princípios éticos que orientam as ações e decisões das pessoas.

A expressão "os fins justificam os meios" é frequentemente associada ao filósofo italiano Maquiavel, apesar dele não a ter utilizado, de forma literal, na sua obra "O Príncipe" (1513). A confusão reside no fato de Maquiavel argumentar que em política um líder deve estar disposto a usar todos os meios necessários, independentemente de sua moralidade, para manter o poder e a estabilidade do Estado. Para ele, a manutenção do governo, o bem-estar da nação e a ordem pública eram fins justificáveis, mesmo que isso implicasse em ações antiéticas.

No entanto, a ideia subjacente à frase tem raízes que remontam a debates éticos e morais anteriores, incluindo o utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Os defensores do utilitarismo sustentam que a moralidade de uma ação deve ser determinada pelo resultado líquido de felicidade ou bem-estar que ela gera. Assim, se uma ação antiética levar a um resultado mais benéfico em termos de bem-estar geral, então os fins justificam os meios.


O Pragmatismo não fica distante disso. Assevera que em alguns casos, agir estrategicamente e utilizar meios que podem ser moralmente questionáveis é visto como necessário para alcançar objetivos significativos, como a resolução de conflitos ou a consecução de metas políticas e sociais.

Por trás do pensamento utilitarista e pragmático está o argumento de que a moralidade é relativa ao contexto. Portanto, o que pode ser antiético em uma situação pode ser moralmente justificável em outra, dependendo das circunstâncias e das consequências.

Já para Kant, a moralidade deve ser baseada em princípios absolutos, independentemente das consequências. Segundo essa perspectiva, ações moralmente erradas não podem ser justificadas pelos resultados que produzem. Por isso que Kant é atual e suas reflexões continuarão a ocupar o centro do debate sobre ética e moral.

A ideia de que os fins justificam os meios pode levar, por vezes, à consequência desastrosa para a solidariedade e conformação humanitária.

Considerando os relacionamentos humanos, a adoção do princípio "os fins justificam os meios" pode erodir a confiança nas relações interpessoais e institucionais, pois a integridade e a ética são essenciais nelas.

A história não perdoa e ensina: líderes autoritários muitas vezes justificam a repressão, perseguição e violência em nome de objetivos políticos ou ideológicos, alegando que os fins eram a estabilidade ou a prosperidade da nação.

Na ciência, por exemplo, a coleta maciça de dados pessoais em nome da segurança nacional ou de objetivos comerciais levanta preocupações sobre a invasão da privacidade e a ética da vigilância em massa.

Enfim, a expressão "os fins justificam os meios" continuará a gerar debates e discussões em ética e filosofia. Embora haja argumentos válidos para a aplicação desse princípio em certos contextos, ele também é amplamente questionado devido às preocupações éticas, à incerteza das consequências e à importância da integridade e da confiança em uma sociedade.

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.



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