Farra (e ineficiência) das ambulâncias
Nas últimas décadas, ambulância virou moeda de troca política. Governadores, deputados e senadores, usando verbas públicas, distribuíram indiscriminadamente esses veículos para os prefeitos aliados, na espera de dividendos eleitorais para o próximo pleito. Sem ter o que delas fazer, alguns prefeitos trocaram os vidros e transformaram as ambulâncias em veículo executivo e a maioria deles as utilizou, mesmo caracterizadas, em todo serviço, tanto público quanto particular. Há, por exemplo, o caso de um prefeito do interior paulista que transportava suínos de seu sítio na ambulância recebida do Estado.
Depois de anos de desmandos, a sociedade (inclusive o Ministério Público) passou a exercer sua ação fiscalizadora, e os desvios diminuíram. Mas isso ainda não é a garantia de uso adequado. A ineficiência de prefeitos e administrações municipais mantém centenas, talvez milhares, de ambulâncias paradas por falta de manutenção enquanto o povo, doente, morre por falta de transporte especializado. Ambulâncias são utilizadas para levar a hospitais e ambulatórios regionais pacientes sem traumas nem dificuldades de locomoção, que poderiam ser conduzidos em ônibus ou qualquer outro veículo simples.
Lançado pelo governo federal em 2003, o SAMU (Serviço de Atendimento Moveu de Urgência) é uma proposta avançada, de origem francesa, que hoje vigora em 15 países. No Brasil, no entanto, tem sido prejudicado pela falta de agilidade e empenho das administrações municipais que, constitucionalmente, são as responsáveis pelo atendimento médico de urgência e emergência.
São frequentes as notícias veiculadas pela imprensa de que a maioria das ambulâncias está parada para manutenção e o povo é atendido precariamente. Dias atrás, a “central de ambulâncias” de uma importante cidade paulista funcionava com apenas uma de suas dez viaturas. Isso demonstra incompetência ou, pelo menos, falta de interesse e planejamento. Ambulância e outros veículos de socorro devem ser usados exclusivamente na finalidade e ficar disponíveis as 24 horas do dia, pois a ocorrência não espera e nem marca hora para acontecer. São vidas em jogo.
Os governos federal e estaduais têm o dever de adotar providências para que as ambulâncias, compradas com o dinheiro do povo, atendam eficientemente a população. Não podem permitir que grande parte da frota permaneça por longos dias na oficina e o povo sem seu serviço. Há de se exigir a adoção de manutenção preventiva (que é mais barata do que a corrretiva), veículos de reserva e, principalmente, a desburocratização do processo de compra dos insumos para esses serviços. Depois que o paciente morrer, a ambulância não será mais necessária.
Ambulância sem logística é dinheiro jogado no lixo...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br
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