Um tesouro perdido Treze de agosto de 1968, a gênese da Universidade Federal de Mato Grosso

Fosse mais cuidadoso com a história, não teria deixado escorrer, pelo vão dos dedos, tantas preciosidades.

Era 13 de agosto de 1968.

No aeroporto Marechal Rondon, liberam-nos o pouso. Assim principiava a ser escrita a história do ensino superior em MT.

No comando, o piloto Eli. Como navegador convidado, o médico Carlos Eduardo Epaminondas.

Tão só um passageiro: era o secretário de Educação do Estado, Gabriel Novis Neves. Rumávamos para o Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

Na bagagem, um enorme álbum, capa de couro, com fotos de obras educacionais do Estado, autoria do Pierre.

Trazia um envelope com a cópia do anteprojeto de criação da Universidade Federal de Mato Grosso

Ao meio dia, chegamos ao Rio. À nossa espera, o ex-secretário de Educação, Prof. Wilson Rodrigues.

Fomos ao encontro de Pedro Pedrossian — governador de MT à época —, no Ministério de Educação. Supersticioso, marcou o encontro para 13 de agosto, seu aniversário.

Conduziram-nos ao gabinete. Antes dos cumprimentos formais, Pedro, ‘olho no olho’, apertou forte a mão direita do ministro.

Não titubeou. Foi logo dizendo a que veio: hoje é 13 de agosto, 13 horas. Mais que isso: hoje é dia do meu aniversário!

Vim lhe pedir um presente, certo de que não me será negado. De minha parte, eu lhe darei um outro, com as obras educacionais de meu governo.

Continuou: ministro, solicito a criação da Universidade Federal para Mato Grosso, com ‘sua sede em Cuiabá’! Atordoado, convidou-nos o ministro a que sentássemos.

Mostrou-nos uma pilha de processos, com idêntico pedido. Mas, do lado oposto, havia outra, não menor, que advogava a sede para Campo Grande.

O desejo da ‘Universidade’ era voz geral. Divergência, só em relação ao local da sede. Importante: a Constituição Federal dizia que ela deveria ficar sediada na capital do Estado.

Findo o encontro, de lá saímos com uma ‘pontinha’ erguida de esperança.

O clima político se desenhava o pior possível. Nesse mesmo agosto, no dia 31, o presidente Costa e Silva é acometido com AVC. Faleceu em 17 de dezembro.

Um ‘triunvirato militar’ assumiu a Presidência, impedindo a posse do vice, Pedro Aleixo.

Foi numa tarde de 1969: o assessor especial do ministro de Educação, Tarso Dutra, encaminhado pelo chefe da Casa Civil de MT, bate às portas da Secretaria de Educação.

Ao se identificar, o prof. Lídio Modesto o conduz até mim.

Trazia um envelope com a cópia do anteprojeto de criação da Universidade Federal de Mato Grosso. Ao modo como fora encaminhada ao Congresso Nacional.

Uma alegria sem igual: a sede seria Cuiabá!

Deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Tarso Dutra dava o ‘pontapé inicial’ para a criação e instalação de nossa Universidade Federal em Cuiabá!

Benza-o Deus e a todos que emprestaram empenho em tornar realidade este sonho!

Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT.