Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Quarta - 23 de Janeiro de 2013 às 13:54
Por: Lourembergue Alves

    Imprimir


 O nível da democracia é identificado pelo grau de transparência das ações dos agentes públicos de um dado país. Medidor que não se aplica ao Estado não-democrático. Condição percebida pelo esquema utilizado para esconder tudo, ou quase tudo do contribuinte. Ainda que tal “brincadeira” de esconde-esconde não seja notada. Isso, talvez, pelo alto índice de hipnose que se encontra grande parte da população. Retrato que, infelizmente, se vê na Venezuela, onde até o estágio da doença do presidente é escamoteada. 

 As notícias a respeito são completamente distorcidas, assim como também são as que tratam sobre o real retrato do Estado. Um Estado altamente comprometido pela falta de planejamento, até mesmo para melhor se valer da sua maior, senão única fonte de renda, o petróleo. É deste que o governo retira o dinheiro para manter “unidos” os situacionistas, a despeito de suas diferenças e interesses pessoais, e transforma os que não são em mais fiéis dos “chavistas”, e banca a sua chamada bolsa social, e com a qual “compra-se” votantes. A coisa se dá de tal forma, que a camada da população contemplada não vê que o seu benefício é a contrapartida do apoio dado ao governante, ora expressado como manifestação popular, ora materializado em votos depositados nas urnas. Apoio que chega as raias do fanatismo por parte de alguns, até em razão do marketing utilizado pelo governo e de décadas anteriormente marcadas pela miséria, e com a qual se media o enorme abismo entre os que podiam sobreviver e os que nada tinham para satisfazer suas necessidades básicas.   
    
 Esperteza que não teve os oposicionistas, quando um dia eram “os donos do poder”. Agora, porém, ficam presos as suas próprias incapacidades de reação. Mesmo diante do “atentado a Constituição”, que permitiu o vice-presidente – não eleito e não legítimo – a continuar administrando o país e concedeu ao presidente – legal, mas enfermo – prazo para sua posse, que deveria acontecer lá atrás. Tudo isso sob o aval da Corte Suprema do Estado, que trocou o dever pelo qual seus membros foram nomeados pelo comprometimento de culto ao presidente Chávez. O mesmo culto que tiveram os países do Mercosul, em especial o Brasil e a Argentina. Nenhum destes se mostrou inconformado, a exemplo da maneira que procederam contra a cassação do presidente do Paraguai. Tanto que este caso levou-os a suspenderem a participação paraguaia no dito clube. 

 Dois pesos e duas medidas. Talvez, por isso, reveladora. Revela um Brasil desorientado no que diz respeito às regras concernentes à política externa e um governo argentino atento, nos últimos anos, tão somente ao verniz das relações. Inclusive internamente, quando procura calar as vozes da mídia que não fazem coro aos dados e as verdades oficiais. 

 Tudo isso é bastante triste. Bem mais no instante em que se percebe que o auxílio do governo não se faz acompanhar por uma política de “desligamento” da “bolsa”. O que deveria ser algo também relevante, até em razão da liberdade tanto necessária para a conquista do status de cidadão. 

 Essa não conquista, o da cidadania, traz prejuízos imensuráveis. A ponto de não perceber que este estado de bem-estar social ignora os reais problemas do país, cujos desenhos são traçados pela falta de utensílios básicos, e que pode ser agravada com a queda do petróleo no mercado internacional. Isso sem falar na ausência de perspectivas pessoais, do tipo crescimento profissional e independência de opinião. Ingredientes necessários, sem dúvida, para a existência de olhares diferenciados sobre as coisas que ocorrem no país. E isso igualmente é uma necessidade para a construção do Estado venezuelano democrático e de direito.  

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br


Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/64/visualizar/