Mãos à obra, senador!
A principal “notícia” política durante o carnaval foi o desabafo do senador Blairo Maggi (PR) declarando-se frustrado com o ritmo de trabalho no Senado Federal e anunciando que vai encerrar sua carreira política com este mandato. Como se viu, faltou assunto para o noticiário político!
A rigor, o desabafo nem sequer notícia foi, afinal, algo que irá acontecer daqui a praticamente oito anos - a menos que seja fenômeno natural ou coisa que o valha -, tem mais chances de não acontecer do que de tornar-se fato. E considerando que notícia é fato relevante, inédito e de interesse público, neste caso nem informação tivemos.
Porém, se levarmos em conta que outros arroubos de Maggi no mesmo sentido não passaram de quás-quás-quás e ziriguidum de carnaval, então veremos que o desabafo, na verdade, não chega a ser, sequer, uma curiosidade.
Senão vejamos: Blairo Maggi disse que não seria candidato a reeleição, e foi. Depois disse que cumpriria integralmente seu segundo mandato, e dele renunciou para ser candidato a senador. Antes, disse que não colocaria políticos na secretaria de Educação, e colocou dois. Isso para citar apenas as promessas mais conhecidas. Disso conclui-se que em matéria de futuro político o que Maggi diz não se escreve.
Mas, preocupa o fato de Blairo ter sido eleito com uma soma de votos tão expressiva e já dar sinais de desânimo. Por sua importância empresarial e com toda a expectativa que cercou sua eleição e posse, espera-se mais dele.
O Senado é a Casa de representação dos Estados. Lá estão três representantes de cada unidade da federação. Os senadores dos estados do Nordeste desequilibram um tanto essa representação ao atuarem como bancada regional, acima dos partidos políticos. O sudeste também se aglomera de forma parecida, embora com bem menos estados.
Blairo Maggi já foi um entusiasta da formação de um bloco geopolítico chamado “Centro-Norte”, que envolveria os estados do Centro-Oeste e Norte do país: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Rondônia, Acre, Roraima, Amazonas e Pará. Há muitos interesses em comum entre esses estados, e muitos problemas semelhantes, entre os quais déficits de infra-estrutura de transportes, energia e qualidade de vida.
Mas há também muitas oportunidades. Praticamente toda a Amazônia brasileira está na região, que também, junta, é a maior produtora de alimentos do país, além de madeira, crédito de carbono, e detentora de uma biodiversidade maior que as de muitos países juntos. Há inúmeros outros indicadores que poderiam ser elencados.
Logo, fora as inúmeras pautas do cotidiano de Mato Grosso, não falta trabalho para um senador competente e sensível política e socialmente. Um senador que olhe além da montanha, que crie novos caminhos. Blairo - que tem negócios e contatos em todos esses estados - deveria aproveitar as poucas sessões do Senado para, com seu tempo livre, resgatar essa sua antiga bandeira da formação do bloco do Centro-Norte. Ao fazer isso, verá que oito anos podem ser pouco para a enormidade de desafios que tem pela frente. Mãos à obra, senador!
Mas, o Senado Federal é diferente do governo do Estado ou de qualquer outra instância de poder. Ali reúne-se a nata da política brasileira. É preciso humildade para lidar com tantos medalhões, e muita inteligência para cavar espaços políticos. Blairo, assim como Jayme Campos e Pedro Taques, precisa encontrar-se lá dentro. Senão, em vez da bancada do Centro-Norte, sob a liderança de nosso Estado, Mato Grosso ficaria manco na sua representação. Voltarei ao tema.
(*) KLEBER LIMA é jornalista em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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