Farinha do mesmo saco
Diz um ditado popular que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Esta sabedoria popular é muito antiga e precisa ser atualizada. Com a maior facilidade posso acrescentar várias vírgulas no tradicional ditado, e enfileirar uma série de conceitos novos. Vivemos em época de propaganda eleitoral. Todo mundo dá o seu pitaco sobre o assunto mais discutido na cidade: as próximas eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. E lá vêm as análises políticas! Passando pelos profissionais das ciências políticas, os tais marqueteiros, e pelo cidadão comum - todos com as suas opiniões bem abalizadas.
Sou médico e admito a loucura como forma de vida até hoje incompreendida. Vou também me aventurar, a conversar sobre este assunto, embora a contra gosto, só pelo prazer de dar uma mexida nesse angu. Em primeiro lugar essas eleições não mudarão em nada a vida do brasileiro de segunda classe. Continuará “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Ouviremos nos próximos meses barbaridades de mentiras. Sairão pela boca dos candidatos verdadeiras pérolas de auto-estima.
Agora, que legalmente está iniciando a propaganda, a gente escuta cada uma! Dia destes ouvi de um candidato, logo o menos preparado para a função, dizer que está muito bem preparado! Fiquei passado com a cara de pau. Pudor não existe mais para essa gente.
“Todos são farinha do mesmo saco”, é a voz corrente entre o povo. Forte e contundente, mas expressa a sabedoria do povo, que muitos políticos pensam que estão enganando. E os políticos, nem aí: falam, falam e falam, mesmo sabendo que estão sendo demagógicos e hipócritas
A morfologia do candidato é que é diferente. Ideologia? Simplesmente não existe. Todos, sem exceção, pulam mais de partido do que ladrão de galinha pula cercas. O comunismo no mundo acabou, porque virou o partido dos empresários! No Brasil foi criado pelos intelectuais o partido do trabalhador, comandado pelo símbolo do trabalhador brasileiro. Chegando ao poder virou o partido dos banqueiros e patrões. Ganhe quem ganhar as próximas eleições, e os nossos principais problemas como educação, ciência, tecnologia, inovações com transformações, saúde, segurança, infra-estrutura, continuarão do mesmo jeito, se não piorar.
O cargo conquistado com o voto do eleitor privado de informações verdadeiras servirá para os poderosos trabalharem como lobistas dos seus próprios negócios. Até hoje funcionou assim, e não mudará de uma hora para outra. O Estado Brasileiro continuará loteado entre os partidos políticos, onde o mérito das escolhas dos ocupantes desses cargos não é considerado. Todos já estão preocupados em eleger deputados e senadores comprometidos, não com o eleitor que os elegeu, e sim com a formação de uma ampla e sólida base de sustentação para o governo aprovar por WO as suas mensagens. Isto sai muito caro financeiramente, assim como a verba publicitária para trabalhar a imagem do governante.
Lendo um jornal de campanha de certo candidato a governador, não encontrei uma linha que falasse sobre educação, saúde e segurança. O candidato aparece lançando pedra fundamental, discursando para placas, defendendo a aposentadoria em dois minutos, e finalmente posando com os tratores. A história desses tratores de última geração demonstra bem a falta de respeito com o dinheiro do contribuinte. Compraram essas necessárias máquinas para os nossos carentes municípios e muitas festas foram realizadas. Esqueceram-se, porém do mais importante e imprescindível: treinar os operadores das máquinas. Muitas estão encostadas, pois até hoje ninguém conseguiu abrir a porta da cabine do trator. Debates de idéias foram substituídos por ofensas pessoais. Quando há oportunidade de um debate, discute-se o passado e o presente que daqui a pouco será passado. E o futuro desta nação e do seu povo?
Cuidado candidatos que se dizem preparados para o poder! O eleitor está preparado para votar, mesmo sendo todos os candidatos, farinha do mesmo saco com as raríssimas exceções, para confirmar a regra.
*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT
Comentários