É o conceito, seus tolos!
Já tive a oportunidade de dizer aqui deste espaço que se conta a história de uma eleição pelos debates que ela produz. Quem viu a eleição de Mato Grosso até o momento e decidiu escrevê-la apresentará um livro com as páginas em branco. Ainda não temos ideias e formulações conceituais suficientes sequer para as orelhas deste livro hoje impossível.
O problema desse vazio de ideias pode ser explicado, primeiro, porque embora haja quatro candidatos ao governo, um deles praticamente não está na disputa real; um está isolado na representação da oposição; e outros dois dividem o espaço da situação.
O candidato da oposição é Wilson Santos. Dificilmente outro candidato tomaria esse seu lugar. Já na situação, a candidatura de Mauro Mendes, que se propunha a terceira via no início – e embora vocalize algumas críticas ao atual governo – acaba, por sua proximidade com o governo, sendo uma espécie de Plano B na percepção mais geral dos operadores da política. E isso está se disseminando entre os eleitores.
Por este fato, basicamente, a eleição está ficando sem confrontos claros de ideias e conceitos. Esta eleição tinha tudo para polarizar a disputa entre situação e oposição. Discurso de oposição é sempre o da desconstrução da situação, com uma ou duas bandeiras que projetam futuro e criam novas expectativas. No geral das vezes, contudo, a oposição primeiro tem que desconstruir para depois gerar novas expectativas, ainda que sejam “vou fazer diferente”.
Em casos em que e situação tem grande aprovação do público/eleitor, a oposição inteligente leva o debate para as biografias dos candidatos para poder dizer que fará melhor, que é mais preparado. É mais ou menos onde navega o José Serra na eleição nacional: não ataca frontalmente o governo do Lula porque, devido a sua grande aprovação popular, isso equivaleria a bater no eleitor.
Já a situação parte para a geração de novas expectativas a partir da promoção do que já realizou. É o fez, faz e fará muito mais, que pode assumir muitas formas, como o “Para o Brasil seguir mudando”, da Dilma, ou mesmo o “Mais mudanças para Cuiabá”, utilizado competentemente pelo Wilson na sua reeleição em 2008.
Na eleição estadual esses conceitos não se clarificaram ainda. Primeiro, porque a entrada de Mauro Mendes na disputa - com todas as suas ligações com a chamada turma da botina – acabou por produzir uma certa desorientação no típico eleitor situacionista, que acaba tendo que entender, entre Silval e Mauro, qual, de fato, é o candidato que representa o governo.
Num caso desses, é óbvio que Silval tem mais legitimidade e oportunidade de se impor como o herdeiro do espólio dos últimos 8 anos de governo, afinal é o governador. Para Mauro Mendes a assunção dessa posição é mais complicada porque ela não conseguirá abandonar completamente o discurso da oposição, ante a uma pergunta básica do eleitor: “Se ele fosse mesmo o candidato do governo, por que então não é candidato pela coligação dos partidos que compõem o governo?”.
Há muito mais a ser dito e analisado sobre a dimensão conceitual desta eleição e os perfis assumidos por cada um dos candidatos. Por ora, vamos apenas lembrar de uma famosa frase do estrategista de Bill Clinton nas suas eleições à Casa Branca, numa discussão sobre o que era determinante na definição dos votos dos americanos. “É a economia, estúpidos”, disse James Carville. Foi um conceito estratégico da campanha de Clinton.
Definir o tema para o debate eleitoral é, portanto, o primeiro passo para o sucesso ou fracasso da disputa. Logo, diria eu aos candidatos, que é o conceito, seus tolos, que vai definir o próximo governador de Mato Grosso.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br
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