Quanto vale
Publiquei vários artigos alertando meus poucos leitores para a perda da auto-estima da gente cuiabana - orgulhosamente chamada de “tchapa e cruz”. Na bolsa de valores dos novos colonizadores de olhos azuis está valendo, no máximo, um DAS-1. O pior é que esta gente de tanta “tradição” fica extremamente grata e submissa. Não percebe que está sendo humilhada.
Aqui, da minha “sala de parto” observo, pela leitura, essa destruição. Estão conseguindo, com essas chupetas com mel, calar a indignidade das suas condutas com esses atos, que considero obscenos. Estou digitando lendo um jornal de grande circulação.
Um candidato a cargo majoritário - que acha que irá nos fazer um enorme favor lá em Brasília - escolheu como 1º suplente, que assumirá o cargo, um ex-prefeito de uma pequena cidade do Nortão. Mas não escolheu para valorizar o Nortão que, aliás, precisa ser valorizado.
O 1º suplente do empresário candidato está servindo, não ao povo de Mato-Grosso, e sim a um frigorífico que precisa de representantes no Congresso Nacional. E quem foi escolhido para a 2ª suplência do Titanic? Um representante autêntico da cuiabania, portador de um currículo dos mais brilhantes: ex-prefeito da capital eterna de Mato-Grosso, maior colégio eleitoral do estado. Até hoje é lembrado como um dos prefeitos mais empreendedores da nossa história; deputado estadual e federal por várias legislaturas; Secretário Geral de um Ministério importante. Atualmente é apenas “adjunto” de uma secretaria. Para tripudiar e humilhar ainda mais sobre os nossos valores é o 2º suplente de um empresário e de um ex-prefeito de uma cidade pequena do Nortão e representante de um frigorífico.
Para um governo que “veio para mudar”, é uma triste realidade, para nós cuiabanos, verificarmos que a maior obra do governo atual foi destruir a auto-estima dos que escolheram Cuiabá como a sua cidade. Como se isto não bastasse, o governo “que veio para mudar” inflacionou as alturas o quadro de DAS - tão criticado por ele na campanha - deixando-nos um legado de mais de seis mil DAS. Não contando, é claro, com a “generosidade” dos repasses aos poderes não executivos.
E o que ocorre no outro prato da balança política da desmoralização de Cuiabá? Simplesmente a expulsão da moralmente legítima dona da vaga, a guerreira senadora, de reputação inatacável, de valores morais e éticos firmes, professora da UFMT. Talvez este perfil não agradasse tanto aos poderosos de plantão. Foi escolhido então o seu companheiro de partido, que com certeza será recompensado com oito anos em Brasília, pois, dizem, essa dupla é invencível.
Pasmem com a escolha dos suplentes que serão nossos futuros senadores! Os dois vencedores do chapão imbatível serão Ministros. Para 1º suplente o defensor da ética e transparência escolheu um emérito professor de um município que durante muitos anos tinha dono. E na 2ª suplência a consagrada e querida professora da nossa UFMT, lutadora popular na defesa do partido da estrela vermelha. A nossa mestra sentiu a humilhação. Não aceitou a provocação e retirou a sua brilhante biografia dessa sopa de interesses pessoais. Tudo estava planejado. Logo foi chamado um comerciante “socialista” para a 1ª suplência do ex-partido dos trabalhadores. O mestre do interior nem consultado foi, e como disciplinado aluno aceitou o rebaixamento. Este arranjo é invencível e o povo “adora sopas”. O difícil será esperar a folhinha virar.
Realmente um cuiabano não vale mais que um DAS-1, no time do atual governo. O vice do homem do Nortão para governador, não foi aceito como segundo suplente pelos espertos candidatos que não precisam de votos. Já se consideram eleitos e ministros escolhidos, apesar do rejeitado “representar” a baixada cuiabana. Está ai uma das causas da perda da auto-estima da gente cuiabana.
*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT.
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