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Opinião
Domingo - 27 de Março de 2022 às 10:51
Por: Luiz Henrique Lima

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Dia 21 de março houve a celebração do Dia Internacional da Síndrome de Down, condição genética que atinge um número estimado de 300 mil brasileiros.

Inúmeros artigos foram escritos. Declarações governamentais exaltando o êxito de políticas públicas. Ações de marketing privado divulgando o sucesso de iniciativas inclusivas. E, de fato, registram-se ótimas notícias.

Aumentou a expectativa de vida dos portadores da síndrome - PSD, que agora alcança 63 anos; há melhor qualidade de vida para eles e suas famílias; há crescente aceitação social e participação em múltiplas atividades culturais, esportivas, profissionais e acadêmicas. Em muitos aspectos, houve uma extraordinária evolução civilizatória no que concerne a como a maioria dos humanos se relaciona com os nossos irmãos PSD.

Infelizmente, não todos.

Infelizmente, algumas notícias não mereceram destaque. Podem chocar as pessoas, ferir a sua sensibilidade ou ativar um sentimento de culpa por ação ou omissão.

Refiro-me ao genocídio em curso, permanente e silencioso, de bebês diagnosticados com a síndrome de Down durante os exames gestacionais e simplesmente descartados, abortados, mortos, por decisão unilateral dos genitores, a quem compete o dever legal (e moral) de ampará-los e nutri-los.

Refiro-me ao genocídio em curso, permanente e silencioso, de bebês diagnosticados com a síndrome de Down

A palavra genocídio é apropriada. Não se trata de um ou outro caso isolado. No mundo, são milhões de mortes provocadas como indicam as estatísticas disponíveis. Alcançam percentuais altíssimos. Constituem uma prática de ampla aceitação na relação entre pais e profissionais de saúde, geralmente acobertada pelo silêncio e vagas informações que a gravidez não prosperou. Sem detalhes e sem arrependimento.

Vamos aos números.

Estudo publicado em 1999 na revista Prenatal Diagnosis estimou que nos Estados Unidos mais de 90% dos fetos diagnosticados com Síndrome de Down eram abortados. Por seu turno, a pesquisa liderada por Boyd em 2008 revelou que, em casos de diagnóstico pré-natal da condição, a taxa de interrupções passa dos 90% na Suíça e na Bélgica, chegando a 96% na França, Alemanha, Itália e Espanha (International Journal of Obstetrics & Gynaecology).

No Reino Unido, de acordo com o Relatório Anual de 2010 do The National Down Syndrome Cytogenetic Register foram abortadas 91% das gestações em que foi feito o diagnóstico pré-natal de Síndrome de Down. Ou seja, noventa e um por cento de futuros PSD foram impedidos de nascer!

No Brasil não há disponibilidade de dados confiáveis, mas um indicador da ocorrência de sua prática é que o percentual de crianças nascidas com Down se aproxima da média internacional.

Genocídio se define como o extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. É o que indicam percentuais de 90% de aborto de nascituros com Down. A loucura nazista da “purificação eugênica” finalmente é vitoriosa, não pela imposição de um estado totalitário (Aktion T-4), mas pela “mão invisível do mercado”.

São múltiplas as considerações e circunstâncias que podem influenciar ou conduzir à decisão de aborto com fundamento no prognóstico de que a criança será PSD: econômicas, emocionais, culturais etc.

Pais que imaginavam o paraíso se consideram injustamente condenados e punidos. Pergunte a uma mãe com criança PSD quantas vezes durante a gravidez lhe foi sugerida uma “solução”. Há nisso, todavia, um conjunto de informações enviesadas e preconceituosas que ignoram ou subestimam o potencial de filhos PSD serem pessoas boas, felizes, amorosas, criativas e trazerem maior realização ao ambiente familiar que filhos sem essa condição.

Ademais, como os testes gestacionais não têm 100% de precisão, todos os dias há algum bebê abortado sob a falsa suspeita de vir a ser PSD.

Perdoe-me, leitor, se o tema lhe causou algum desconforto no seu final de semana. Mas é preciso mostrar um pouco do que fica oculto pelo espesso véu de hipocrisia, insensibilidade e egoísmo que nos circunda. Se você tem empatia com os mais frágeis de nossos irmãos humanos, como os nascituros com síndrome de Down, estamos juntos.

Expresso minha homenagem, respeito, admiração e gratidão aos pais e mães, inclusive por adoção, que optam pela vida e pelo amor e acolhem essas crianças para a extraordinária experiência humana.

Luiz Henrique Lima é professor e auditor substituto de conselheiro do TCE-MT.



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