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Opinião
Sábado - 30 de Abril de 2022 às 07:20
Por: Jandira Maria Pedrollo

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A comemoração do Dia do Trabalho é alusão a um protesto de trabalhadores estadunidenses, ocorrido em Chicago, em maio de 1886, contra a jornada exaustiva. Lutavam lado a lado homens e mulheres pela redução da carga horária de 13 para 8 horas diárias, e por melhores condições de trabalho.

As conquistas desencadeadas repercutiram em diversos países, inclusive no Brasil.

Apesar das lutas, tais conquistas não chegaram à categoria das trabalhadoras do lar, nunca lembradas na data. A categoria de “Dona de Casa” ou simplesmente “Do Lar” é a em maior número no mundo, porém nunca reverenciada.

É atividade ignorada, apesar de uma das mais árduas. Não há horário de expediente definido, dia ou hora para começar ou acabar. Muitas das trabalhadoras que desempenham o trabalho repetitivo, cansativo e não remunerado, não são consideradas como executoras de atividades econômicas.

É comum ouvirmos: Fulana não trabalha “só cuida dos filhos” ou “É do Lar”. O lar não é propriedade dela, ela é propriedade do lar, o lar a absorveu.

Caso tenha que remunerar alguém para realizar todas essas funções desempenhadas pela “Do Lar”, qual seria o investimento?

Quando se é apenas “Do Lar”, a posição ainda é cômoda. O problema é ser trabalhadora do lar e fora dele. É preciso desempenhar com maestria as duas funções sob pena de ser considerada relapsa. A competitividade do mercado de trabalho é grande e ainda é preciso encarar a dupla ou tripla jornada.

Apesar do compartilhamento das atribuições com os companheiros, as responsabilidades pelo desempenho das atividades caseiras acabam recaindo sobre elas, mesmo que apenas a coordenação, que também é outro trabalho.

Nessa data tão significativa parabenizo todos os trabalhadores, e em especial as mulheres

Porque são poucas as mulheres em postos de comando de funções públicas ou atividades políticas? Possivelmente porque não lhes cabe na agenda em decorrência da vida atribulada que levam.

São poucas as que tomam frente em posições de destaque, muitas as que assumem não têm filhos, por opção própria, por contingências da vida ou inclusive para não prejudicar a carreira.

E essa é uma opção dolorida uma vez que a maioria foi doutrinada para o papel de mãe, porém, a opção pela carreira é cada vez mais frequente.

Na minha área de atuação, a Arquitetura e Urbanismo, apesar de a maioria se identificar como mulher (58% segundo CAU/BR 2020) pouquíssimas ocupam posição de destaque. Seria por menor capacidade?

Não creio, temos brilhantes profissionais na área. Em se tratando da atuação na área do urbanismo vejo a discrepância ainda maior, uma vez que esse setor envolve a política, e o ambiente político é ainda mais restritivo às mulheres. Muitas das urbanistas que se sobressaem vêm de universidades onde as oportunidades na área é maior, nas academias encontram mais espaço para o trabalho e divulgação dos resultados.

Em se tratando de cargos eletivos, apesar da política de cotas, as mulheres eleitas são raras. Diversas vêm de famílias de políticos ou possuem suporte financeiro que lhes dê apoio.

Pouquíssimas são as que se elegem por seus próprios méritos. Em se tratando de cargos de dirigentes, também são poucas e geralmente ocupam vagas do terceiro e quarto escalão.

Compreensível que as tarefas cotidianas absorvam os esforços, mas é preciso saber compartilhar tais tarefas para que sobre tempo e disposição para a luta pela representatividade que nos é de direito. É preciso que as mulheres deixem de ser “do lar” e sim que o lar lhes pertença e permita a integração mais atuante na sociedade.

Nessa data tão significativa parabenizo todos os trabalhadores, e em especial as mulheres, a quem manifesto reverências.

Jandira Maria Pedrollo é arquiteta e urbanista.



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