Na mira dos predadores
É unânime, no meio industrial, a preocupação relativa ao agravamento dos problemas que afetam a competitividade do setor. O mais agudo deles, o câmbio sobrevalorizado, soma-se e potencializa os efeitos nocivos da alta carga tributária, juros exorbitantes, dificuldade de crédito e precariedade da infraestrutura. Tais fragilidades, no inóspito cenário da exacerbada competição do mundo globalizado, tornam nossa manufatura uma presa fácil para os concorrentes internacionais.
Considerando o significado da indústria para o conjunto da economia, é urgente a adoção de medidas para reverter o desequilíbrio que se verifica na balança comercial da atividade, deficitária em 2010. É preciso lembrar que o setor foi o que mais cresceu no ano passado, ocupando posição de destaque na recuperação do Brasil depois da crise de 2008/2009. Esse protagonismo foi visível até mesmo no âmbito regional. No Acre, por exemplo, a economia evoluiu 7,6% e a indústria, 14%, numa proporção até maior do que a verificada no plano nacional, no qual a relação foi, respectivamente, de 7,6% e 10,5%.
Para 2011, a meta de expansão do Estado é de 8,3%, enquanto a taxa de crescimento do PIB industrial deverá manter-se em 14%. Essa boa performance também alavanca o crescimento da taxa de emprego. Em 2010, o número de postos de trabalho teve um aumento de 17,34% no Acre. As estatísticas, portanto, corroboram o significado da manufatura e evidenciam o quanto uma crise do setor seria danosa para o Brasil, justamente neste momento em que vivemos um período positivo de aquecimento do nível de atividade.
O sinal de alerta está aceso, pois o ritmo de crescimento da indústria caiu no fim de 2010 e deverá manter-se nesse patamar mais baixo no início de 2011, indica a CNI. Segundo estudo da entidade, a produção cresceu de maneira moderada em outubro e novembro, mas recuou em dezembro, com o indicador em 44,7 pontos, ante os 52,7 no mês anterior. Se a produção caiu e o consumo continua em alta, significa que as mercadorias importadas estão invadindo cada vez mais o nosso mercado interno, substituindo as manufaturas nacionais. Isto é um sintoma grave, a ser reparado com urgência, pois a perda de competitividade pode provocar a desindustrialização.
Cada lote de produtos importados vendido no território nacional significa a geração de empregos em outra nação e a não criação de postos de trabalho em empresas de nosso país. O problema agudo do câmbio e o "Custo Brasil" estão despertando o apetite e o instinto predador de nossos concorrentes, como se fôssemos a zebra debilitada da manada em meio à caçada dos leões.
João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre (Fieac). E-mail: salomao@fieac.org.br
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