Carta de São Paulo aos paulistanos
No dia 25 de Janeiro, a Igreja celebra a festa da conversão de São Paulo, o apóstolo que foi conquistado por Deus a caminho de Damasco. Nesta mesma data, festejamos o aniversário de fundação da cidade que recebeu também seu nome: São Paulo, cidade conquistada por Deus através do trabalho de catequese dos índios realizado por padres jesuítas.
Se existe um título que podemos outorgar ao apóstolo Paulo é o de pregador das grandes capitais. Ele pregou em Atenas, que na sua época era a capital cultural do mundo; levou o evangelho também a Éfeso, capital da estética; ensinou em Jerusalém, a capital da fé; e, por último, pregou em Roma, capital política. Paulo empenhou-se durante 30 anos na difusão dos ensinamentos de Cristo. Ele percorreu incansavelmente mais de 10 mil quilômetros, passou três anos no deserto da Arábia, cinco anos no exílio em Tarso (sua cidade natal na Cilícia, hoje na Turquia), enfrentou tormentas, assaltos e ataques de animais selvagens. Ele foi açoitado e preso sete vezes por conta de sua fé em Jesus. Por fim, foi decapitado em Roma. Mas, acima de tudo, Paulo foi o pregador de grandes capitais.
Se Paulo era o apóstolo das grandes cidades, porque não imaginá-lo escrevendo agora aos paulistanos? O que ele lhes diria? Vamos imaginar a Carta de São Paulo aos Paulistanos. Ela poderia começar assim:
“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, conquistado por Deus e agora seu embaixador, aos irmãos Paulistanos. Graça e Paz!
Caríssimos, dou graças a Deus pela fé depositada aqui há 456 anos e pelo vosso crescimento através do trabalho, dessa mesma fé e da graça de Deus sobre vós. Lembrai-vos da fé aqui semeada e nunca esqueçais da raiz cristã que recebestes, pois ela é a base dessa sociedade. Lembrai-vos de que o Santo Sacrifício da Eucaristia é o acontecimento que marca a data de vossa fundação. Em meio à agitação, ao barulho e aos problemas que vos assolam, não esqueçais de que a esperança não decepciona, pois tudo concorre para o bem dos que amam a Deus.
Irmãos paulistanos, os exorto a não mais se comportarem como outrora eu me comportei, um perseguidor da Igreja de Cristo. Hoje, no aniversário de vossa cidade, os chamo a celebrar também a conversão e a se tornarem mensageiros da paz e da esperança no Cristo Jesus.
Que ninguém os faça prisioneiros de teorias e conversas sem fundamento, levando-os ao desprezo daquilo que recebestes como tradição da fé. Lembrai dos grandes homens que vos precederam neste chão, não esqueçais que a semente do evangelho de Cristo está semeada em vossa história.
Quanto a vós, paulistanos, que o Senhor os faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros. Que este amor seja sincero, com terna afeição, e que sejam capazes de enxergar, nos mais pobres e necessitados, a pessoa de Cristo. Ele mesmo disse que onde estivesse um irmão sofredor, pobre, abandonado, ali estaria Jesus Cristo crucificado. E que o amor recíproco seja o ideal a ser perseguido, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei de Deus.
Paulistanos, chegou ao meu conhecimento de como sois hospitaleiros e acolhedores. Dou graças a Deus porque em vosso meio as culturas se encontram. Sois gente de todas as partes do Brasil e de todas as nações. E em meio a tanta diversidade, a cidade de São Paulo é campo fértil para frutificar a cultura do Evangelho, da fraternidade. Vós sois cidadãos do Alto e vossa vida está calcada em Cristo Jesus.
Por fim, queridos irmãos paulistanos, que a Palavra de Senhor habite em vós com abundância, para que possam permanecer enraizados na fé em Cristo, tal qual vos foi ensinada, transbordando em ação de graças. Buscai as coisas do Alto e o Deus da paz fará transbordar sobre vós todo tipo de bênçãos.
A Ele o louvor, o domínio, a vitória e a honra pelo séculos dos séculos. Amém!”
Se Paulo viesse agora pregar em São Paulo, nos diria que celebrar a sua conversão é antes de tudo um chamado à nossa conversão, é um chamado à conversão da nossa cidade de São Paulo. Como o apóstolo dos gentios, Paulo intercede para que sejamos, pela graça de Deus, transformados em discípulos e missionários de Jesus Cristo. Hoje, podemos ouvir novamente a voz do apóstolo que diz aos paulistanos: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo”.
Parabéns à Cidade de São Paulo pelos seus 456 anos de fundação. E “São Paulo apóstolo, rogai por nós!”
*Daniel Machado é filósofo e membro da Comunidade Canção Nova (www.cancaonova.com)
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