Tempo da criação É a celebração anual para orar e responder, juntas e juntos, ao clamor da criação
O tempo da criação é a celebração anual para orar e responder, juntas e juntos, ao clamor da criação. É a família ecumênica ao redor do mundo se unindo para cuidar de nossa casa comum, o planeta terra. Neste ano o tempo da criação tem como tema: “Que a justiça e paz fluam” (Amós, 5,24).
O período de “celebração” do tempo da criação começa dia 1 de Setembro (sexta-feira), e termina dia 4 de outubro, Festa de S. Francisco, padroeiro da ecologia. S. Francisco é um santo muito amado e admirado universalmente.
O tempo da criação é uma oportunidade esplêndida para pessoas cristãs de todo o mundo, incorporarem a comunhão para o qual nós, humanos nesta terra, fomos criados. Como pessoas seguidoras de Cristo em todo o mundo, compartilhamos um chamado comum para cuidar da criação.
Nosso bem-estar está interligado com o bem-estar da terra. A encíclica “Laudo Si” do Papa Francisco, lançada em 2015, é a inspiração para a celebração do tempo da criação. A “Laudato Si”, (LOUVADO SEJAS, meu Senhor”) está fundamentado no cântico das criaturas de S. Francisco: “Louvado Sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra”.
Nesse gracioso cântico, ele nos recordava de que nossa casa comum pode-se comparar, em alguns momentos, a uma irmã com quem partilhamos a existência, e em outros momentos, a uma boa mãe que nos acolhe em seus braços: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos, com flores coloridas e verduras”.
O tempo da criação vem, também, nos lembrar que somos colaboradores do criador no cuidado com a criação. Somos guardiões da natureza criada por Deus. Somos uma espécie de jardineiros nas mãos do Criador. A violência e ambição que estão no coração humano, marcas do pecado, não pode continuar provocando doenças no solo, nas águas, no ar e nos seres vivos.
Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, da sua experiência, iniciativas e capacidades pessoais. É preciso pensar globalmente e agir localmente. Portanto, cada ser humano deve dar sua cota de colaboração no cuidado com a casa comum. Cientes de que Somos colaboradores e não proprietários daquilo que pertence a Deus.
Outro aspecto importante é a tomada de consciência de que ao nosso lado estão, desde os primórdios, os povos originários da floresta: Indígenas, afro-brasileiros(as), quilombolas e ribeirinhos. Estas populações foram construtoras de uma rica cultura, com preciosos valores humanos e espirituais. São chamadas, também, de “culturas históricas”.
Entretanto, estas culturas foram muito machucadas, feridas e oprimidas ao longo da história. Para muitos, até hoje, são consideradas subculturas ou culturas inferiores e desprezíveis.
O grande antropólogo e pesquisador Belga: Claude Lévi-Strauss afirmou em seu livro “Raças e culturas”, que não existe uma cultura superior a outra. Mas, sim, diferentes culturas. Para reparar os erros da história, precisamos cultivar um relacionamento mais fraterno e respeitoso com as culturas históricas. S. Francisco é o exemplo por excelência de proximidade com a cultura dos fracos, dos pobres e humilhados do mundo. Além disso, ele manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e nos propõe reconhecer a natureza como um livro aberto em que Deus nos fala e transmite algo da sua beleza e bondade. Disse: “Partindo da grandeza e beleza das criaturas, pode-se chegar ao criador”.
Era um místico que vivia com simplicidade e numa grande harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Faremos a abertura do tempo da criação com uma celebração, na Catedral, ás 18:30, presidida pelo Arcebispo. Convidamos todas as pessoas de boa vontade, mas especialmente os fiéis cristãos para esta solene celebração.
Enfim, por meio da oração e ações sustentáveis, este tempo da criação pode renovar profeticamente nossa unidade ecumênica no cuidado com a casa comum. Finalizo, parafraseando o que disse Guterres, secretário geral da ONU na COP 27:
“ESTAMOS NA ESTRADA PARA O INFERNO CLIMÁTICO. A HUMANIDADE TEM UMA ESCOLHA: COOPERAR OU PERECER, OU É PACTO DE SOLIDARIEDADE CLIMÁTICA, OU UM PACTO DE SUICÍDIO COLETIVO”.
O catecismo da Igreja Católica afirma: “é preciso respeitar a integridade da criação. Os animais, como plantas e os seres inanimados, estão naturalmente destinados ao bem comum da humanidade passadas, presente e futuro. Portanto, qem depreda a natureza comete o pecado ecológico” (cigc, 2415).
Deusdédit de Almeida é padre na Catedral e assessor da pastoral da ecologia Integral da arquidiocese.
Comentários