O ano das vacas magras A Petrobras continuará a escurecer a conjuntura com suas ações caindo ao fundo do poço e ameaçandoa o pré-sal
Cinco desenhos podem retratar os horizontes do país nos próximos meses: um cobertor político esburacado; uma tela de duas cores avermelhadas separando alas do PT; o céu da economia totalmente coberto por nuvens pesadas; a paisagem urbana nas metrópoles retocada pela agitação de grupos; e, arrematando o cenário, a máquina governativa sendo puxada por ministros que sofrem para avançar no terreno íngreme da administração, esbarrando nos obstáculos da contenção de despesas e em cortes nos orçamentos. Analisemos cada um.
Os buracos no cobertor político foram feitos pela tesoura presidencial, que aparou espaços de partidos na colcha ministerial, como foi o caso do PMDB. O maior parceiro do PT na aliança governista ganhou um ministério a mais, mas perdeu poder.
Dos seis ministérios que ganhou (um a mais que no mandato anterior), três são secretarias de menor expressão – Pesca, Portos e Aviação civil -, enquanto a Pasta da Agricultura foi destinada a uma senadora recém-chegada ao PMDB, Kátia Abreu, não considerada indicação da ala peemedebista do Senado. "A Petrobras continuará a escurecer a conjuntura com suas ações caindo ao fundo do poço e ameaçando a viabilidade econômica do pré-sal. "
O partido tentará resgatar parte da força perdida com cargos no segundo escalão, já sabendo que a estratégia em desenvolvimento, sob inspiração da presidente Dilma, visa a diminuir sua influência e, consequentemente, a parcela de mando no tabuleiro do poder.
Manifesta-se tal intenção com o reforço dos partidos médios – PSD, PDT, PTB, PC do B, PR e outras siglas menores – que, juntas, somam votos suficientes para derrotar os oposicionistas, mesmo que estes possam vir a contar eventualmente com o rolo compressor do PMDB.
A estratégia é arriscada tendo em vista a possibilidade de o PMDB voltar a comandar as duas casas congressuais. Tudo vai depender dos nomes do partido arrolados nas denúncias de Paulo Roberto Costa, envolvendo o senador Renan Calheiros e o deputado Eduardo Cunha, potenciais candidatos (e favoritos) às presidências do Senado e da Câmara.
Para acirrar a disputa, o PT lança o deputado Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara, pretendendo contar com o apoio dos partidos da base governista.
Mas estes estariam satisfeitos com a repartição do butim ministerial? A desconfiança cresce, sendo previsível maior distanciamento entre PMDB e PT, caso Cunha seja candidato e vitorioso.
Ocorre que o PT está dividido. Um grupo de aranhas da teia lulista sente-se longe do ninho principal. Dilma chamou para perto de si companheiros com os quais conviveu na administração pública (formando um gauchutério), não pertencentes à ala CNB – Construindo o Novo Brasil – onde se abrigam os lulistas.
O pano de fundo da aliança situacionista, como se pode constatar, está cheio de buracos. Juntar os fios da malha é tarefa difícil, mesmo para Aloizio Mercadante, que age como primeiro-ministro e potencial candidato à sucessão de Dilma em caso de inviabilidade do nome de Lula. Mercadante não é um perfil muito palatável (simpatia, empatia) para parcela do universo
Desviemos agora a atenção para a moldura econômica. Os mosaicos mostram cores sombrias.
Grande sombra cobrirá a inflação, com perspectiva que ultrapassará 6,5%, o teto da meta. As águas dos preços represados encontrarão as comportas arrombadas, prevendo-se estouro do bolso do consumidor com os aumentos da gasolina, energia, transportes e alimentos.
A Petrobras continuará a escurecer a conjuntura com suas ações caindo ao fundo do poço e ameaçando a viabilidade econômica do pré-sal.
De primeira empresa brasileira, baixou para a quinta colocação. Já o petróleo cai de preço a cada semana. Os bolsos vazios atingirão o estômago.
Categorias profissionais e movimentos organizados irão às ruas para levantar suas bandeiras. O clamor social se elevará.
Por último, teremos poucos avanços nos programas sociais. O dinheiro será curto para cobrir todas as demandas. Cortes em orçamentos deixarão ministros a ver navios.
2015 será o Ano das Vacas Magras.
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